sexta-feira, 7 de novembro de 2014

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Abaré-Inti, o leão marinho que é a maior atração do Aquário de Santos, no litoral de São Paulo, se tornou alvo de um estudo comportamental. Os tratadores inserem atividades diferentes na rotina do animal, que nasceu em cativeiro, para analisar como ele se comporta e se desenvolve habilidades geralmente perceptíveis aos exemplares que foram gerados na natureza. Mas a parte mais importante é melhorar o bem estar de Abaré-Inti.×Ads By minibar
Matheus Felix de Goes, de 20 anos, estudante de Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Marinha, é um dos tratadores do leão marinho e resolveu unir o trabalho ao estudo. “Eu vi que ia ser legal um estudo com ele e comecei a aplicar o trabalho. Acho que está sendo bom para mim e para ele”, disse Góes, que cuida do animal todos os dias pela manhã.
A pesquisa "Resposta comportamental de Otaria Flavescens quando apresentado a diferentes técnicas de enriquecimento ambiental” foi iniciada no começo do ano. Matheus explica que ele quer tentar mudar um pouco a rotina do animal que vive sozinho em cativeiro. “Ele acaba sempre tendo a mesma rotina, estresse, comportamentos repetidos que não são comuns quando está na natureza. Com o enriquecimento ambiental a gente tenta melhorar o bem estar do animal”, explica ele. Por exemplo, no cativeiro, ele recebe a comida na boca e não precisa procurar o alimento, não tem contato com outros animais e, por isso, apresenta comportamentos diferentes em relação a um leão marinho solto em seu habitat natural.
Um dos comportamentos considerados anormais, que são característicos de animais em cativeiro, é a natação repetitiva estereotipada, quando o animal realiza o mesmo circuito sem um objetivo aparente. Além disso, também há a inatividade. No caso do leão marinho, ele fica muito tempo nadando e, depois, muito tempo dormindo e não realiza nenhuma outra atividade. “Isso é considerado um estresse de cativeiro”, afirma Góes.×Ads By minibar
Demétrio Martinho, biólogo e chefe do setor de biologia do Aquário de Santos, diz que é preciso destacar que o leão marinho Abaré-Inti nasceu em um cativeiro em São Paulo. “Ele não teria essa pegada do animal nascido na natureza. Ele já nasceu dentro dessa rotina (cativeiro), desse condicionamento. Mas, mesmo que ele não tenha aprendido com os pais, mesmo que ele não tenha vivido na natureza, ele consegue desenvolver alguns padrões de comportamento, da genética. O pai e a mãe eram selvagens, então ele tem uma memória e uma convivência com animais que viveram na natureza”, diz ele.
Para mudar um pouco a rotina de Abaré-Inti, o estudante universitário trabalha com eles todos os dias e utiliza tipos de enriquecimento ambiental. O tratador coloca peixes dentro de cubos de gelo para desenvolver a questão da busca pelo alimento. “É tipo um picolé. A gente faz um gelo com as manjubinhas dentro, ele pega, fica rodando com o gelo até conseguir tirar a manjuba. É diferente de dar a comida na boca. Já faz com que ele tenha que se movimentar. E já muda a rotina dele do dia inteiro. Ele adora”, diz Góes. Esse tipo de atividade faz o animal queimar calorias, exercitar os músculos e ter um bem estar psicológico também. “É como levar o cachorro para passear”, brinca Martinho.
O estudo também trabalha a parte cognitiva, ou seja, educa o animal para obedecer uma série de comandos dos tratadores e biólogos. Para isso é realizado um treinamento quatro vezes ao dia. “Você posiciona ele para tirar sangue, ver como está o pelo, ver como estão os dentes, há uma série de comandos. É um animal com mais de 200 quilos, então se ele não for condicionado a fazer por vontade dele, é complicado. Se ele não quiser deitar, você não vai fazer ele deitar”, disse Martinho.
O estudante também esta montando outras atividades para desenvolver a atenção de Abaré-Inti, como armar novas armadilhas para ele obter alimento e também colocar uma pena de pinguim no recinto para ver qual a reação do leão marinho com o cheiro de outro animal. “Ele nunca teve contato com um pinguim. Será que ele vai lembrar, será que existe uma memória genética disso?", questiona Góes, que afirma que o importante é deixar essas atividades diferentes sejam supresas e não que o animal perceba que isso será realizado diariamente.
A primeira etapa que está sendo realizada é a de observação do comportamento do leão marinho. A partir disso, o estudante irá elaborar um catálogo comportamental, falando sobre a rotina do animal. A segunda fase é do comparativo. “A gente já tem os comportamentos que ele apresentava e vamos ver quais ele apresentou perante o enriquecimento”, disse Matheus.
A intenção do estudante é fazer a análise durante as quatro estações do ano, porque a mudança no clima afeta o comportamento do animal. Somente após o termino da pesquisa é que os biólogos e tratadores do Aquário de Santos saberão se o enriquecimento ambiental trouxe benefícios e uma melhora de comportamento para o Abaré-Inti. Se a avaliação for positiva, certas atividades poderão ser mantidas. “A gente acredita que vai somar, vai ser uma coisa interessante para o animal. Mas dentro de acreditar e ser, nós precisamos do estudo para comprovar isso”, completa o biólogo Demétrio Martinho.

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